quarta-feira, 4 de julho de 2012

APICULTURA

Apicultura



Cortiço - colmeia tradicional
Apicultura é a ciência, ou arte, da criação de abelhas com ferrão. Trata-se de um ramo da zootecnia. A criação racional de abelhas para o lazer, ou fins comerciais, pode ter como objectivo por exemplo a produção de mel, própolis, geleia real, pólen, cera de abelha e veneno, ou mesmo fazer parte de um projecto de paisagismo. Além disso, as abelhas são importantes polinizadoras.

Apicultura migratória

Nos pomares de laranja é comum os agricultores contratarem apicultores para polinizarem as flores de laranja, a render grande produtividade, tanto de laranja, como de mel, conhecido como mel flor de laranjeira. Este tipo de actividade chama-se apicultura migratória, porque o apicultor descarrega um caminhão de colmeias no centro do pomar durante a floração, e depois retira as colmeias no fim da floração. Nestes casos a retirada dos enxames é importante, pois tratando-se de uma monocultura de laranja, as abelhas não terão alimento (néctar de flor) após a floração, e irão consumir todo o mel estocado dentro das colmeias.

Equipamentos


Fumigador
Todo apicultor deve saber manusear os principais equipamentos necessários para se ter um apiário: o fumigador, o formão de apicultor. Traje com máscara de protecção, é necessário, pois as abelhas afro-brasileiras atacam o produtor , então tais equipamentos são de uso necessário.
Existem muitos outros acessórios encontrados em lojas especializadas de apicultura, como o colector de pólen, apanhadores de zangões, alimentadores, protectores de realeira, gaiolas de transporte, centrífuga e garfo desoperculador[1].

A colmeia racional

Na apicultura moderna usa-se uma colmeia padrão desenvolvida em pesquisas científicas. Um dos padrões mais usados no mundo é o Langstroth, em Portugal usa-se também o padrão Lusitano. Existem muitos outros padrões e formatos de caixas(Curtinaz, Schirmer, etc..). No desenho destas caixas usa-se o conceito do espaço-abelha, que é basicamente o tamanho de uma, ou duas abelhas, não mais. Trata-se de uma caixa com 10 quadros removíveis onde ficam os favos. O distanciamento dos quadros respeita o chamado espaço-abelha. A vantagem desta caixa padrão é a possibilidade de retirar os favos sem danifica-los, centrifugar o mel, e devolver o favo intacto para a colmeia, com a vantagem da intercambiabilidade dos favos(caixilhos) entre as caixas(colméias). O espaço-abelha é o espaço que permite as abelhas circulem por dentro da colméia e disciplina a construção dos favos na posição de encaixe dos 10 caixilhos, permitindo que o apicultor remova centenas de favos em poucos minutos e recoloque-os de volta depois.

Rotina do Apicultor

A manutenção de um apiário exige visitas frequentes do apicultor para as tarefas de remoção de mato perto das colmeias, revisão das caixas e colheita, dentre outros serviços.
Durante a revisão o apicultor verifica se há excedente de mel para colheita, se a rainha está fértil (a produzir crias), se não há formigas, se não há traças, se existe cera em quantidade suficiente. Uma vez por mês os favos são levantados para verificar estes itens. O serviço é trabalhoso porque um apiário comporta aproximadamente 30 colmeias e cada colmeia tem no mínimo 10 favos. Apicultores profissionais podem ter centenas de colmeias espalhadas em dezenas de apiários. Assim o apicultor costuma trabalhar com um ajudante, e instalar o apiário sempre em local de fácil acesso para carro, ou camião.

Histórico

Foram encontrados pedaços de âmbar transparente envolvendo abelhas em pesquisas arqueológicas. As teorias dizem que já existiam abelhas há 42 milhões de anos, idênticas às actuais. Mas o que se têm de fato, é o relato do uso do mel pelas civilizações mais antigas traçadas pela história, sendo uma delas os Sumérios.
Há registro gráfico de arte rupestre representado abelhas datando do neolítico em caverna na área onde hoje fica Valência (Espanha). Outra representação antiga está gravada na tumba da Ramsés IX, no Egito, essa datando de 1.100 a.C.[2].
Na obra de Eva Crane (Honey, a Comprehensive Survey), encontramos informações de que os Sumérios, que se estabeleceram na Mesopotâmia por volta de 5000 a. C., já usavam o mel. Dos textos Sumérios que sobreviveram até os nossos dias são conhecidas duas passagens que falam a respeito do mel.
Três mil anos depois, esta região seria conhecida por Babilónia. Os Babilónios já usavam o mel também na medicina. Posteriormente, os hititas invadiram a Babilónia. No código hitita, por volta de l300 a.C., aparecem as primeiras referências em uma legislação que regula algo a respeito de mel e abelhas.
Por volta do ano 3400 a.C., o soberano do Alto Egipto uniu seu reino ao Baixo Egipto. Desde a primeira dinastia, em 3200 a.C., adoptaram-se as abelhas como símbolo do faraó do Baixo Egipto. O mel era muito usado pelos antigos egípcios, especialmente pelos sacerdotes, tanto nos rituais e cerimónias como para alimentar animais sagrados.
Há textos que põem em destaque a existências de apicultura migratória no antigo Egipto, o que significa que já naquela época era bastante usado algum tipo de colmeia móvel.
Na Bíblia, no Antigo Testamento, há informação suficiente para concluir que na Terra Prometida dos hebreus, “regada por leite e mel”, o mel era amplamente usado. Em vários textos bíblicos, o mel também é citado em diversas passagens do Antigo Testamento, sendo mencionado em alguns Salmos:
Quão doces são as tuas palavras ao meu paladar! Mais do que o mel à minha boca. (salmo 119:103)
O temor do SENHOR é límpido e permanece para sempre; os juízos do SENHOR são verdadeiros e todos igualmente, justos. São mais desejáveis do que ouro, mais do que muito ouro depurado; e são mais doces do que o mel e o destilar dos favos. (Salmo 19:9-10)
No livro de Provérbios, o mel é mencionado pelo autor como um medicamento, o que demonstra que os hebreus já utilizavam esta substância não só com fins alimentares mas também terapêuticos:
Palavras agradáveis são como favos de mel: doces para a alma e medicina para o corpo. (Provérbios 16:24)
Em sua poesia de Cântico dos Cânticos, Salomão, o mesmo autor da maioria dos Provérbios, faz outra menção ao mel, incluindo-o como um dos mais excelentes produtos da época:
Já entrei no meu jardim, minha irmã, noiva minha; colhi a minha mirra com a especiaria, comi o meu favo com o mel, bebi o meu vinho com o leite. Comei e bebei, amigos; bebei fartamente, ó amados. (Cantares 5:1)
Acredita-se na existência de apicultura sistemática já na pré-história, pois a própria actuação de Aristeu que, conforme narra Virgílio inspirado na Mitologia grega, teria sido o primeiro apicultor e cultivou abelhas melíferas em carcaças de animais mortos[3], leva-nos à ideia de que existe uma grande possibilidade de os personagens mitológicos terem sido seres humanos que se destacaram por serem inteligentes, habilidosos ou bem dotados, com o tempo eles teriam se tornado lenda.
Pela época do historiador Hesíodo, contemporâneo de Homero, a apicultura sistemática já era um fato, pois se menciona o “simblous, ou simvlus”, que era um tipo de colmeia construída por mãos humanas.
Escavações feitas em Feston, na ilha de Creta, por companhias arqueológicas italianas, trouxeram à luz colmeias de barro que pertenceram à época minóica, 3400 a.C., bem anterior a Hesíodo e Homero. Outros achados destas escavações revelam o alto estágio da apicultura desta época. Entre eles estão duas jóias de ouro; uma delas mostra duas abelhas, datada de 2500 a.C., e foi encontrada nas escavações da antiga cidade de Cnossos.
Homero, o poeta, na sua consagrada Odisséia, fala sobre uma mistura de mel e leite, chamada “melikraton”, que era considerada uma excelente bebida; menciona também que as filhas órfãs de Píndaro eram alimentadas pela deusa Vénus (Afrodite) com queijo, mel e vinho, os mesmos alimentos usados por Circe, a feiticeira, que fascinou os companheiros de Ulisses.
Foi Aristóteles quem primeiro fez estudos com métodos científicos a respeito de abelhas, “melissas”, utilizando colmeia cilíndrica feita com ramos de árvores entrelaçados com uma mistura de barro e estrume de vaca. Esta colmeia hoje é chamada de “anastomo” ou “cofini”, e em certas regiões da Macedônia ainda é usada.
No período pré-aristotélico, a apicultura já tinha em grande parte sido sistematizada, tanto assim que o grande legislador ateniense Sólon dedicou-lhe vários artigos da lei, o que comprova seu estágio avançado naquele tempo. Um dos artigos proibia a instalação de um novo apiário a uma distância menor que 300 pés (90 metros) de um apiário já existente.
A cesta cilíndrica usada como colmeia possuía alvado ou buracos por onde entravam as abelhas, na parte superior, boca, onde eram colocadas de oito a doze ripas de madeira, paralelas. Ao longo da parte inferior destas ripas era derramada cera derretida, bem no meio, e ao longo de seu comprimento. A partir deste fio de cera, as abelhas iniciavam a construção de favos paralelos que chegavam ao fundo da cesta. Estes foram os primeiros favos móveis de que se têm notícias.
Com favos móveis, Aristóteles conseguiu fazer observações valiosíssimas, das quais algumas sobreviveram até a descoberta do microscópio, outras até Langstroth, apicultor estadunidense do século XIX, o espaço abelha, e as medidas são válidas até hoje.

Portugal

Em 2010, existiam Portugal cerca de 17 mil apicultores, 38 mil apiários e 562 mil colmeias. Com o declínio na população de abelhas e o crescente valor económico da actividade, tornou-se comum registarem-se roubos de colmeias.[4]

Referências

  1. McKNIGHT, Anete. Apicultura. Campinas: Icea, 1982. p. 07 - 73
  2. Revista "In Veneto Magazine", Itália, Primavera de 2011 - "Api"
  3. "O livro de ouro da Mitologia, História sw Deuses e Herós" - Thomas Bulfinch - 34ª Edição - Ediouro
  4. Geraldes, Helena (6 de Abril de 2012). Aumento de roubos de colmeias preocupa apicultores. Público. Página visitada em 7 de Abril de 2012.

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